Era uma vez um sapo. Seu nome era
Astrogildo.
Astrogildo, como tantos outros sapos,
nasceu na beira do rio.
E viveu muito tempo por lá.
Até o dia em que, do nada, resolveu
visitar a cidade grande...
Seus pais disseram que era melhor não:
era arriscado, perigoso.
Astrogildo apenas sorriu.
E, numa bela manhã ensolarada, pôs uma
trouxinha nas costas e o pé na estrada...
Ao chegar à cidade, algo estranho
aconteceu...
Astrogildo já não era sapo.
Também não era homem.
Era uma mistura engraçada dos dois – só
mesmo vendo para crer!
Entre tantos lugares legais para ir,
Astrogildo escolheu ir numa casa lotérica.
Queria apostar na Super-Moeda, o prêmio
milionário.
Então enfiou a mão bolso da calça e
acabou encontrando uma nota amassada.
Com ela, pagou o jogo, e guardou o
bilhete como um pequeno troféu.
Aí saiu caminhando pela cidade.
Andou até se cansar. Depois foi dormir
num banco qualquer da praça.
De manhã, Astrogildo correu para a casa
lotérica.
Conferiu os números do sorteio... e não
deu outra.
O prêmio era dele. Só dele! Todinho
dele!
Curiosamente, Astrogildo tinha virado
sapo outra vez...
Com o dinheirão, Astrogildo mandou levantar
um palácio luxuosíssimo, bem na área nobre da cidade...
A primeira coisa que ele disse para os
construtores foi:
– Quero que tenha uma torre tão alta,
que encoste nas estrelas!
E assim foi feito!
Castelo pronto, Astrogildo mudou-se
definitivamente para lá.
Nem ao menos foi se despedir da sua
família...
Nem dos seus antigos amigos lá do
brejo.
O rio onde ele havia nascido agora era
coisa do passado.
Uma nova vida só estava começando.
Era assim que Astrogildo pensava, com
um sorriso que mal cabia na boca...
Durante o dia, Astrogildo ficava de
olho nos empregados.
Dava ordens e mais ordens a homens, mulheres
– e até crianças!
Enchia a paciência de todos com sua
arrogância, com suas vontades absurdas:
– Faça isso!
– Faça aquilo!
– Assim não está bom!
– Faça de novo!
Mas, quando a noite caía, Astrogildo
colocava roupas maravilhosas, banhava-se de perfume e ia todo contente para o
alto da torre.
O elevador era chiquérrimo, cheio de
espelhos.
Levava pouquíssimos segundos para
conduzir Astrogildo às alturas!
Lá em cima, Astrogildo matava o tempo
olhando as estrelas...
Às vezes, tocava violão. E cantava musiquinhas
da moda.
Cantava muito mal, por sinal. Mas se
sentia um verdadeiro pop star!
Pois foi assim, entre uma canção e
outra, que, certa noite, Astrogildo teve a tal
idéia...
Esticando sua língua enorme, agarrou e
engoliu uma estrelinha...
Justamente aquela que sempre se
emocionava ao vê-lo cantar!
Dali em diante, Astrogildo largou o
violão de mão.
Ficava só engolindo estrelas, para
desespero das coitadinhas...
Ao final de certo período, viam-se bem
menos estrelas no céu.
E o passatempo de Astrogildo prosseguiu,
noite após noite...
Nada impedia aquela língua esfomeada!
Como se pode imaginar, a barriga de
Astrogildo cresceu demais...
Cresceu de forma assustadora!
Devido aos quilões adquiridos,
Astrogildo tomou uma atitude: mandou alargar e reforçar a estrutura da torre. Investiu
pesado no elevador.
O bicho não era bobo nem nada.
Queria segurança e comodidade nas suas
constantes subidas e descidas...
Dias, meses se passaram...
E Astrogildo sempre comendo estrelas!
O céu, agora, era de uma tristeza que
só vendo...
Os moradores da cidade ficavam
lamentando o que tinha acontecido.
Ninguém, entretanto, tinha coragem de
falar nada contra o sapo...
Afinal de contas, Astrogildo era
malvado e muito, muitíssimo poderoso!
As pessoas só falavam às escondidas:
– Qualquer hora dessas ele vai acabar
com as estrelas!
– Pois é... E é bem capaz de comer a
Lua também!
E todos sofriam juntos sem saber o que
fazer diante daquela situação.
Certa noite, como sempre, Astrogildo
foi para o topo da torre.
Sua barriga doía, e como doía!
Ele pôs a culpa no cozinheiro; naquela
sopa de vaga-lumes do jantar...
Então, para se distrair um pouco, pegou
seu violão.
Começou a tocar e a cantar.
Vez por outra interrompia o seu show e engolia uma estrelinha.
Ficou nessa folia até tarde.
Até perceber, irritado, que restava
apenas uma estrela no céu...
Astrogildo largou o violão. Sua voz
calou-se.
Concentrou toda a sua atenção na
estrelinha, que tremia apavorada...
A sua dor de barriga aumentara
terrivelmente.
Astrogildo pensou em descer da torre e
pedir um remédio ao seu criado-médico.
Mas desistiu, dizendo:
– Não! Agora tenho um importante
trabalho para terminar!
Então, desenrolou sua língua
gigantesca. E agarrou a última estrela...
Foi o tempo de engolir a estrelinha...
e ouviu-se um estrondo espetacular!
Nos bares, nas praças, nas ruas, nas
casas – tudo estremeceu!
A população inteira da cidade pensou no
fim do mundo...
Mas, passado o susto, verificou-se que
as coisas continuavam como antes...
Menos o céu... que estava novamente
repleto de estrelas!
As pessoas, confusas, se perguntavam:
– Ué, o que aconteceu? Será que o sapo
vomitou tudo, foi isso?!
Na cidade ou no palácio, ninguém ainda
sabia da verdade...
E a verdade era uma só:
O barrigão de Astrogildo, cheia até o
limite, havia explodido!
Explodiu assim que ele engoliu a
estrela derradeira...
Astrogildo nem ao menos teve tempo de
se lembrar da sua vidinha de antigamente, lá na beira do rio... Virou poeira no
ar!
Coitado, né? Ele agira à toa, sem
pensar no que de ruim poderia lhe acontecer...
Minutos depois do acontecido, a cidade
inteira estava que era uma festa só!
As pessoas, aos montes, cantavam e dançavam
pelas ruas...
Elas lamentavam pelo triste destino do
sapo, mas estavam alegres porque tudo voltara a ser como antes.
E toda a gente batia palmas, saudando
as estrelas, que, feito princesas, iam desfilando pelo céu afora...
Princesinhas tão faceiras, estrelinhas tão
verdadeiras!
Felizes como nunca!
Enchendo de brilho e de beleza a grande
noite sobre o mundo!...
Nenhum comentário:
Postar um comentário