Peluda e ligeira, a mão vai escorregando na perninha de Lucimara, por pouco não mergulha debaixo do vestido azulado da moça.
–
Pare com isso, Oswaldo, mamãe pode ver...
–
Agora somos noivos, meu bem. Qual o problema?
–
Sim, mas esqueceu que a cabeça da mamãe continua a mesma? Será que você não
entende?
Oswaldo
bem que se esforça, mas não consegue entender tanta embromação.
Aos trinta e dois anos, Lucimara
morre de medo do lobo mau – e se ele devora os seus docinhos apetitosos?
Enquanto isso, ele, Oswaldo
– homem bem-intencionado, quarentão, viúvo sem filhos –, amarga suas vontades,
suas necessidades, virando-se como pode.
– Você não vê o meu lado, hem,
Lucimara?
– Entenda, meu amor. Mamãe
já não deixou claro que essas intimidades, só depois de casar?
Bem
nessa hora, a velha vem entrando com o cafezinho. O de sempre.
Ao
dar o primeiro gole, Oswaldo queima a língua.
Noutra circunstância,
teria soltado um palavrão cabeludo. Mas, agora, disfarça bem a lágrima no canto
do olho:
–
Então, dona Carmem. A senhora melhorou do seu reumatismo?
–
Que nada, meu filho! Vou de mal a pior. Tem dias mesmo que não consigo nem
levantar da cama sozinha. A Lucimara é que me ajuda, coitada...
Pensa
que o Oswaldo
está escutando a velha?
Qual!
Os sentidos dele estão cravados é no colo e pescoço de Lucimara, que, ruborizada,
se refugia dentro da sua cabeleira de graúna.
E
a velha, continuando com o lengalenga:
–
... O diacho desse remédio que o médico me receitou não está servindo é de nada!
Deus me perdoe, mas já pensei até em procurar um terreiro de macumba...
Pensativo,
Oswaldo deposita a xícara vazia na bandeja.
Dona
Carmem, com um gemido, levanta-se e leva a bandeja para a cozinha.
Oswaldo,
olho fixo na parede, fica quietinho ao lado da noiva até a velha voltar.
–
Janta com a gente, Oswaldo?
–
Vou indo, dona Carmem. Fica para outro dia.
–
Está bem, meu filho. Está bem.
Quando,
minutos depois, Lucimara leva o homem à porta, ele, de repente, lhe tasca um
beijo de língua e sai de fininho.
A
moça, estranhamente atiçada, fica com um gosto esquisito na boca: não sabe se
de café ou de outra coisa.
Oswaldo,
por outro lado, vai embora sem gosto algum na boca – a língua e o desejo
eternamente queimados.
Um comentário:
Olá, Hélio, tudo bem?
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Abraços!
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