Está
chovendo. É uma chuva forte, porém triste...
Mentira.
Na verdade, sou eu que ando meio triste... São tantas coisas, sei lá!
Acabo de chegar do trabalho, da rua.
Demorei um pouco no bar do Felipe.
Tomei quatro cervejas, sozinho, ao pé do balcão.
Lá pela segunda latinha, um casal
começa a discutir na mesa ao lado:
– Cansei das suas mentiras, das suas
traições, Artur!
Não presto atenção no resto.
O problema não é meu, eles que deem
um jeito naquilo.
Terminado o último gole, me despeço
do Felipe e sigo para casa.
A chuva me pega a cem metros do
portão.
Entro, minha esposa está vendo TV na
sala com as crianças.
Julinho corre ao meu encontro:
– Nossa, papai, você está todo
molhado!
Ana Alice, minha filha, mal desgruda
os olhos da novela, é como a mãe...
Rute se levanta:
– Vá se trocar, Miguel, vou pôr sua
janta.
Pergunto, quase em silêncio:
– Alguém ligou pra mim?
– Não. Por quê?
– Por nada...
Entro no quarto.
Enquanto dispo a roupa molhada,
penso no casal brigão lá do bar.
“Estou cansado das suas mentiras,
Rute!...”
E então, chorando, decido não jantar
hoje, mesmo que seja bife acebolado com farofa, feijão e macarrão...
Nem hoje, nem amanhã, nem nunca mais!
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