Naquela manhã, quando
acordei, dei de cara com um Saci no meu quarto.
– Bom dia, Saci Pererê!
Ele não respondeu. Em vez disso, deu
três pulinhos e se sentou na beira da cama.
Alisou a colcha – “Macia, né?” – e a
mão escapuliu no meu pé...
Recuei:
– Ih, sai pra lá, safado!
– Desculpe, não foi por querer...
– Esquece.
– Desculpe mesmo, cara... Escuta, posso
tirar um cochilinho aqui?
– Na minha cama? Pode. Mas só depois
que eu me levantar.
– Quando você vai levantar?
Não respondi.
Tentei dormir um pouco mais, afinal era
domingo, mas a presença do Saci me incomodava.
Me levantei:
– Taí, fique à vontade. Vou pegar um
ducha.
–
Nesse frio?
–
É.
Peguei
uma toalha e entrei no banheiro, não sem antes ordenar ao Saci:
–
Deita e dorme!
Meu
banho durou uns dez minutos.
Quando
saí do banheiro, vi que o Saci continuava no mesmo lugar, imóvel, o olhar
perdido na janela fechada.
–
Em que tá pensando?
–
Tô preocupado...
–
Com o quê?
–
A mula-sem-cabeça. Ficou de vir e até agora não veio.
–
Pra cá?
–
Sim.
–
Fazer o quê?
–
Dormir comigo.
–
Na minha cama?!
–
É claro.
Nesse
momento, tocaram a campainha. A mula-sem-cabeça, decerto...
Fui
ver:
–
Quem é?
–
Sou eu, amor.
–
Pode entrar.
Luciana
entrou.
–
Oi. Que cara é essa?
–
Tem um Saci no meu quarto – puxei-a pela mão, em desespero. – Vem ver...
–
Você tá maluco?
–
Não tô, não.
–
Só acredito vendo.
–
Então veja... Ué, sumiu, o danado!
Luciana
sentou-se na cama:
–
Conta outra. O que um Saci ia querer no seu quarto?
–
Primeiro, dormir. Depois transar.
–
Com quem? Com você?
–
Com a mula-sem-cabeça.
Luciana
sorriu maliciosa:
–
Mula-sem-cabeça, é? Seu taradinho...
Sorrimos,
cúmplices.
Daí
que a gente se empolgou com aquele folclore todo... perdemos a cabeça – e eu
juro que nunca saberia dizer onde começou a perna de Luciana e terminou a minha...
E
vice-versa!
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