“É... As coisas não são tão simples quanto parecem
ser!”
A frase foi dita de repente pelo namorado à
namorada, e ela ficou sem entender patavinas mas achou melhor não perguntar
nada.
Os dois estavam no topo da serra, no sítio do pai
dele. Tinham chegado naquele sábado pela manhã, com a promessa de um fim de
semana tranquilo longe da agitação da cidade. Depois do almoço, o casal saíra
em passeio por estradinhas no meio do mato. Caminhavam de mãos dadas; falavam
pouco, absortos com o canto dos pássaros, o friozinho gostoso e o verde
deslumbrante.
Caminharam por quase uma hora, até pararem para
descansar. O lugar escolhido por ele era ao mesmo tempo insólito e encantador.
Ali, sentaram-se sobre umas pedras pretas, à beira de um precipício.
Foi aí que, rompendo o silêncio que se instaurara
após os “ahs” e os “ohs” dela diante da beleza inóspita do lugar, ele disse:
“É... As coisas não são tão simples quanto parecem
ser!”
E depois de um instante:
“Às vezes, o mundo é tão... tão...”
A moça esperou que ele continuasse.
Mas o rapaz não falou mais nada. Nem ali, nem
depois, quando retornaram à casa dos velhinhos, pelos mesmos caminhos
serpenteantes.
À noite, após o jantar – que transcorrera com os
pais de Augusto gargalhando e tagarelando o tempo todo, contentes que estavam
com a visita do filho e da futura nora – namorado e namorada se dirigiram ao
quartinho reservado para eles, nos fundos da habitação, e ficaram deitados no
escuro e em silêncio...
E foi lá que,
perto do amanhecer – ambos insones! –, o rapaz finamente se explicou, deixando
a moça arrasada, a ponto de desejar voltar lá naquele abismo aonde tinham ido, se
atirar lá de cima daquelas pedras pretas, e se esborrachar toda no chão.
“Desculpe, Mariluce, não dá mais. Estou apaixonado
por outra...”
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