Por Deus, gente
– não sei o que deu nele pra sair assim de casa.
Só
sei que acordei de manhã e nem sinal dele na cama comigo.
Procurei
no banheiro, na cozinha, no quintal – e nada.
Liguei pro
trabalho dele, pros parentes, pros amigos – e nada também.
Aí pensei: tem
vadia na jogada.
Só podia ser alguma
mulher – se bem que em cinco anos de casada nunca tive motivos pra desconfiar
uma gotinha que fosse.
Mas é assim
mesmo – quem conhece o que se passa na cabeça dos outros?
A gente cuida,
dá roupa limpa, faz comidinha gostosa, dá carinho e tudo o mais – e um dia o
diabo aparece e não quer nem saber: leva embora o que não pertence a ele, o que
é nosso por direito.
Agora vivo
sozinha.
Nunca um
telefonema, um bilhete, uma explicação.
Esperei anos e
anos por isso.
Até me cansar,
aceitar que as coisas são como são e ponto final.
Homem nunca
mais arranjei.
À missa aos
domingos não fui mais.
Vivo
trancafiada em casa – o máximo que saio é pra comprar comida ou alguma roupa
nova que acabo não vestindo.
Não sou uma
mulher triste.
Acho que não.
Sou – digamos
assim – uma pessoa anestesiada, indiferente.
Nada me dói – nem
a minha dor, nem a dos outros.
O mundo pode
acabar daqui a dois minutos que não estou nem aí.
Ouço meu
rádio, vejo alguns programas na TV, fumo meu cigarro quando me dá na telha – e
vou vivendo.
Até o dia que
Deus quiser.
Até o dia em
que meu “benfeitor” resolver me deixar morrer de fome...
Pode acreditar
– eu tenho um benfeitor; ou benfeitora, sei lá!
Eu não contei
ainda, mas existe alguém que nas horas mais invisíveis do dia ou da noite enfia
um envelope com dinheiro embaixo da minha porta.
Nunca descobri
de quem se trata...
Pode ser
qualquer pessoa.
Qualquer uma.
Até meu
ex-marido... por que não?
Não, não e não!;
prefiro nem pensar nisso.
Pra mim, o
safado está e deve continuar morto – bem morto e bem enterrado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário