domingo, 31 de julho de 2011

ANTOLOGIA DA ASSOCIAÇÃO CEARENSE DE ESCRITORES


CONVITE 2ª. ANTOLOGIA

Associado (a):

Estão abertas as inscrições para a edição da 2ª Antologia da ACE.
O texto - um conto, crônica ou poesia - deverá ser enviado na fonte Times New Roman, espaço 1,5; tamanho 12; com 3.400 caracteres para escritoresace@gmail.com

Cada associado (a) participará apenas com um texto nas três categorias literárias.

Para que mais associados participem da Antologia, solicitamos que espaçamentos e caracteres sejam preservados.

O valor da inscrição será de 40,00 (quarenta) reais que podem ser pagos em nossas reuniões mensais; na sede da ACE Rua Princesa Isabel, 817, Centro, tel 3214-25-39, com Silas Falcão ou na Av. Duque de Caxias 757, Centro, telefone 3231-53-31, com Haroldo Felinto. Esse valor inclui exemplares da Antologia para cada participante e o coquetel. O associado (a) que optar pelo pagamento da inscrição depositado na conta corrente da ACE, nº262-0, Agência 0920, Caixa Econômica Federal, enviará para escritoresace@gmail.com o comprovante de pagamento, sem o qual a inscrição não será validada.

A participação dos autores na 2ª. Antologia implicará, automaticamente, na transferência dos direitos de publicação do texto autoral para a Associação Cearense dos Escritores – ACE.




      



sexta-feira, 29 de julho de 2011

LEVE & SOLTA


Lá se foi ela, ao sabor do vento... 
Não era uma folha:
Seu nome era Liberdade!

quarta-feira, 27 de julho de 2011

MEU NOVO POEMA SELECIONADO PARA A COLETÂNEA DA CBJE "VERSOS PARA MARIA"


MINHAS MARIAS

Antes –

Duas Marias:
Uma na terra,
Outra no céu.
E ambas
Minhas Mães...

Agora –

Ainda Marias,
Ainda Mamães.
Sempre duas...
Sempre
Em meu coração!

Mas...
Ambas no céu.



segunda-feira, 18 de julho de 2011

BONECA DE PANO

          
          A boneca era da minha irmã e, nossa!, como eu a temia...
          “Você tinha medo da tua irmã?”
“Não, da boneca!”
“Por quê?”
“Ela era de pano...”
“Só por isso?!”
“Ela tinha uns olhos grandes, enormes... Você já reparou alguma vez nos olhos das bonecas de pano?”
“Nunca reparo nessas coisas, Leo, você sabe disso!”
“Pois repare, repare...”
“O que é que tem demais?”
“Todas têm olhos esbugalhados, como se estivessem vendo assombração... É terrível, cara!”
“E isso te assusta?”
“Assusta...”
“Quanto?”
“Muito!”
“Leo, você é esquisito, hem?!”

...

Entrei no quarto e lá estava ela – a boneca – sobre a cama. Esparramada. Pernas e braços abertos, moles. A cabeça pendida para o lado. E os olhos querendo saltar das órbitas e engolir tudo...
Recuei, apavorado. E esbarrei em minha irmã, que vinha entrando...
“O que você tá fazendo no meu quarto, Leo, posso saber?”
Eu fiquei mudo. Um bolo tapava minha garganta.
“Leo, você tá pálido!” Vou chamar a mamãe!”

...

Minha mãe chegou e eu continuava imóvel, mas o coração acelerado, os olhos mais arregalados que os daquela maldita boneca... Que estava ali, bem atrás de mim!
“Leo, fale comigo!”
“Hã...?”
“O que você tem, meu filho?”
“Nada... Preciso sair daqui, mãe. Por favor...”

...

Fui então levado para a sala. O transe havia passado.
Minha mãe não me fez mais perguntas. Me preparou um chazinho e se mandou para o encontro mensal das senhoras do bairro; já estava um pouco atrasada...
Mas minha irmã ficou insistindo:
“O que você queria no meu quarto, Leo?”
“Fui pegar aquele dvd que a vovó te deu...”
Ela ironizou:
“Você não acha que tá grandinho demais pra ver aquele dvd, não, hem?”
Me deu vontade de responder:
“E você, não tá grandinha demais pra ficar brincando com... boneca de pano?”
Mas fiquei calado: eu tinha 15 anos, e Duda... 7, apenas!

...

Mais tarde, consegui perguntar a ela:
“Duda, quem te deu aquela... boneca?”
“Qual?”
A de pano...”
“Ah, ganhei na escola. A professora sorteou. Não é linda?”
Linda?!?
Eu ia falar que era horrorosa, isso sim!, mas meu pai vinha chegando e eu me concentrei na tevê...

...

“Tá, Leo, mas agora você tem 36 anos! Não vai me dizer que boneca de pano ainda te apavora, né??”
“Apavora... Sem brincadeira, eu prefereria ficar uma noite inteira num cemitério abandonado a permanecer 30 segundos na mais simples lojinha de brinquedos!”
“Cara, isso realmente é hilário!”
“Se eu soubesse que você ia fazer troça, não teria vindo aqui te contar nada, Guilherme!”
“Não tô troçando de você, Leo.”
“Você por acaso não tem medo de nada, cara?”
“Tenho, sim, Leo. Da violência, por exemplo. Satisfeito?”

...

Minha irmã, felizmente, não tinha o hábito de levar seus brinquedos para fora do quarto. Como lá eu não voltaria a pôr os pés, aquela foi a primeira e a última vez que deparei com a boneca...

...

É, nunca mais vi a coisa...
E olha que Duda a conservou durante muitos anos!
Até a metade da adolescência...

...

“Como você sabe disso, Leo?”
“Minha mãe. Um dia, eu a ouvi perguntar à Duda o que ela fizera com a Maria...”
Maria?
“Sim – Maria, a boneca. Era este o nome dela...”
“E o que tua irmã respondeu?”
“Disse que tinha jogado no lixo... Fiquei tão aliviado, cara!

...

O Gui achou estranho eu nunca ter contado a história da boneca para meus pais, minha irmã, minha avó, para ninguém. Eu não acho estranho coisa nenhuma! Com certeza iam achar que estava ficando maluco...

...

Por isso guardei meu segredo tanto tempo...
E estava disposto a levá-lo para o túmulo – se minha filhota, dia desses, não me faz aquele estranho pedido...

...

“Paizinho, me compra uma boneca nova?”
“Compro, amorzinho.”
“Mas eu quero uma boneca de pano, viu?
“De pano...?!”

...

“E agora, cara, o que eu devo fazer?!?”
“Parar de bestagem e comprar a boneca pra menina.”
“Eu não posso!”
“Pode, sim. Eu te ajudo a escolher, tá bem?”

...

O Gui é um amigão. Fomos ao centro na mesma hora e ele comprou a boneca. Eu a olhei o menos possível, mas me pareceu que aquela ali não tinha os olhos tão grandes assim...

...

Antes de ir para casa – o Gui já voltara para o seu apartamento –, passei num barzinho e tomei duas cervejas.
Não consegui, nem por um segundo, despregar os olhos do embrulho aos meus pés. Ela estava ali dentro, toda encolhida. Presa, impotente. Não poderia me fazer mal algum...
Bebi o último gole e sorri enquanto escorraçava uma moscona que acabara de sentar toda pomposa na boquinha da garrafa!

...

Minha pequena adorou o presente. Abraçou a boneca, me abraçou também e correu para o quarto.
O contato tufado do braço da boneca no meu me fez gelar um pouco...
Tive vontade de vomitar!

...

Dias depois, minha esposa me contou que sonhara comigo se casando com outra...
“Outra mulher? Com quem, meu bem?”
“Adivinhe!”
“Não faço a mínima ideia; não mesmo!”
“Com a boneca, Leo. A que você deu pra Samantha!”
Sob olhar espantado de Rachel, levantei do sofá (eu estava vendo o noticiário) e corri para o quarto da nossa filha.
Abri a porta de uma vez, disposto a estraçalhar boneca!...

...

Mas Samantha estava com ela no colo...
Quando me viu entrar, minha filhinha me disse:
“Oi, papai!”
E, me mostrando a boneca, completou:
“Preciso de um nome pra ela. Que nome que eu dou?”
Não pensei duas vezes...
“Maria!”, respondi.
“É um ótimo nome, querido!”

...

Juro que, por uma fração de segundo, cheguei a pensar que tinha sido a boneca que havia falado!...

...

Mas, não: era apenas minha esposa que enfiara a cabeça porta adentro – e nos convidava para o jantar.



segunda-feira, 11 de julho de 2011

MULHERES NA NOITE RUBRA


A noite está fria – as mulheres chegaram ali faz quantos minutos mesmo?... Trinta, quarenta minutos, uma hora?... Ora, mas o que realmente isso importa, se as mulheres estão ali desde todo o sempre – e sempre à espera?...
Pois bem – a certa altura dessa “longa espera”, Rutineia fala para a sua amiga:
“Sabe, hoje lá em casa eu li um livrinho que é a coisa mais fofa, você precisa ver, Suélem!”
“Que livro é, algum sobre como sobreviver no frio?”
“Não: Cinderela, aquela que perdeu o sapatinho de cristal...”
“Credo! Tu lê essas porcarias, é?”
“Foi o primeiro livro que eu li, minha filha ganhou ele lá na escola... E você, Suélem, quantos livros já leu?”
“Acho que uns cinco, mas confesso que nunca fui de ler, não; só lia porque minha madrasta me obrigava...”
“Caraca... Ela fazia isso com você, assim no duro?!”
“Fazia. Agora a megera não faz mais. Tá morta e enterrada.”
“Olha, olha, tá vindo alguém aí...”
“Aí, posso ir? Hoje eu tô muito a fim, sabe como é.”
“Vai lá, menina!”
O carro para, Suélem se aproxima toda serelepe, mas o veículo logo vai embora.
“O que aconteceu?”
“O desgraçado achou caro. Pão duro duma figa!”
“Olha, tá vindo outro carro!”
“Agora vai você!”
Rutineia se aproxima, e outra vez o carro zarpa alguns segundos depois.
“Vai ver o sacana também achou caro, né?”, diz Suélem, roendo a unha.
“Sei lá, criatura! Era uma mulher... Ela me olhou com uma cara meio esquisita e caiu fora!”
As duas riem, riem bastante.
Aí Rutineia pergunta:
“Quer que eu leia a Cinderela pra você, Suélem? Eu trouxe na bolsa!”
A outra faz um gesto de impaciência:
“Lê, vai; de repente ajuda a passar esse frio... brrrrrr!”
Rutineia então puxa o livro e, com certa dificuldade – em parte por causa da claridade trêmula da rua –, ela começa a ler:
“Era uma vez, no tempo dos reis e rainhas, uma linda moça que era a própria doçura e bondade...”
Agora, vejam só: o coração de Rutineia, a cada palavra pronunciada, se sacode todo feito nem sei o quê! E esse sacudido vai longe – até o inevitável “e foram felizes para sempre”, que é festejado com sorrisos e suspiros tanto da narradora quanto de Suélem – essas duas filhas da noite rubra, mulheres lindas, verdadeiras...              



quinta-feira, 7 de julho de 2011

TOP 10 DOS GRANDES LIVROS DA MINHA VIDA










O MISTÉRIO DA PORTA


             O cartaz, na verdade, é simplesmente uma folha de papel ofício deitada e manuscrita com letras maiúsculas desenxabidas:
           

PRECISA-SE DE UM CONTO.
É URGENTE!
PAGA-SE O QUE FOR DE DIREITO...


Surpresa. Aguçamento.
Duas da tarde. O sol tinindo. A rua deserta... Devo ir embora?
Mas estou faminto e cadê tostão... Toco a campainha. Três vezes. O sujeito que atende (terno preto e óculos escuros) é a cara do Tommy Lee Jones; já o bigodinho é da Adriana Calcanhotto – se ela tivesse bigode.
“Vim pelo anúncio...”
“Ah! Pensei que fosse pela Rainha da Inglaterra... Venha comigo!”
Pasmo, já entro num elevador.
O bicho, veloz, não sei se sobe ou se desce.
Aí, de repente, para com um sacolejão!
Susto baita... Vixe!
O estranho não disfarça um risinho de deboche:
“Calma, isso é normal. Me acompanhe!”
Agora uma sala vazia. Um breve corredor. Outra sala, esta toda mobiliada. Outro corredor, este longo e sem qualquer saída lateral.
Ao final do corredor, uma porta – creio que de nuvem...
O homem tira seus óculos escuros; me encara:
“Ente aí. Seja cuidadoso! Eu sou Filho da Arte. Exijo autenticidade. O lado mais verdadeiro de cada um. Boa sorte!”
Ele torna a pôr os óculos, escarra na parede e pega o caminho de volta.
Eu respiro fundo e mergulho no mistério daquela porta... E me vejo numa espécie de galpão – enorme, fechado, iluminadíssimo. Ali, cerca de 90 homens. Nenhum percebe minha chegada?
Um “alegre” se aproxima balangando:
“Olá, meu nome é Peter D. Davis. O seu é...?”
Digo um nome falso, não sei por quê:
“Félix da Silva.”
“Olha, Félix, naquele baú – tá vendo? – tem papel e caneta. E não esqueça: meu nome é Peter... Bye!
Só nesse momento me dou conta de que os homens estão todos escrevendo – uns em pé, outros sentados em girassóis de Van Gogh, outros acocorados; há uns poucos no telhado, pendurados como morcegos...
Pego folha e caneta no baú.
Uma confortável poltrona-do-papai se materializa bem na minha frente!
Ora, tomo assento...
Daí a pouco, adentra um frangote de uns 14, 15 anos. Boné ao contrário e tênis horrorosos. Claro. Sua presença é ignorada.
Vou até ele:
“Ei, naquele baú tem papel e caneta!”
“O quê?”
“Papel e caneta, seu burro! Naquele baú!”
“...”
Volto para o meu canto. Para o me conto.
A caneta veleja. As palavras não se negam. Escrevo com grande excitação!
Penso:
“Sou o contista MÁXIMO do Brasil, talvez até do mundo inteiro!”

... MAS, QUE VOZERIO DESGRAÇADO É ESSE NA MINHA CABEÇA PROCLAMANDO QUE AQUELE DALTON DE CURITIBA É IMBATÍVEL, Ó DEUS???...

sexta-feira, 1 de julho de 2011

SURPRESA DE ANIVERSÁRIO


Ontem foi meu aniversário (ou niver, como diz a garotada por aí!), mas deixei pra comemorar somente hoje que é feriado... Convidei poucas pessoas: minha namorada, meu amigo Fred e dois colegas do escritório – o Paulinho e a Ana. Eles são noivos. Vão se casar daqui a quinze dias e eu sou padrinho.
Titia, coitada, está toda atarefada: já preparou carne, fez um bolo de chocolate – o meu preferido – e agora vai sair para comprar uns salgados. “Eu não demoro, meu filho!”, diz ela pegando o seu guarda-chuva amarelo que eu acho ridículo.
Que dia! A chuva que cai é fina, insistente; desde a madrugada que chove é já são nove horas. Os convidados chegarão às duas. Claro que eu queria mais cedo, mas Adriana disse só conseguira marcar na manicure à uma – então foi o jeito adiar... Ela é muito, muito vaidosa! Faz dois meses e meio que a gente namora. Nos conhecemos no supermercado onde ela é caixa. “Nossa, como você gosta de doces!”, disse ela sorrindo enquanto passava as minhas compras. Eu retribuí o sorriso e na hora de pagar, junto com o troco, ela me entregou um papelzinho com o seu telefone.
Agora estamos que é só felicidade! Pensei em me casar com ela junto com o Paulinho e a Ana, mas Titia falou que é cedo; o Fred também acha... Por mim, eu casava e pronto. Tenho certeza de que Adriana é a mulher da minha vida!
Ligo o som e ponho uma música internacional. Pego um vinho tinto na geladeira. Me espreguiço no sofá. “Vinte e nove anos! Vinte e nove... Mas me sinto com dezesseis e hoje vou tomar todas!”, penso virando a metade do copo.
Ligeiro seco a garrafa.
Aí o telefone toca.
Deve ser Adriana, meu chuchuzinho, meu docinho de coco!
Mas, não.
É do hospital: Titia foi atropelada e passa mal...