quinta-feira, 20 de agosto de 2015

SONETO DO AMOR PROIBIDO

O celular toca na madrugada, Úrsula se remexe, sonolenta:
– Saco! Quem será, uma hora dessas?
“É o meu quase-futuro-ex-marido...
Ou ex-quase-futuro-marido?... Ah, sei lá!”
– O que você quer, Miguel?... Tem ideia de que horas são?
– Tenho, sim...
– O que você quer?
– Quero que você venha ao meu quarto...
– O quê?
– Venha, tenho uma surpresinha para você...
– Enlouqueceu, foi?
– Sim... Ou não. Mas venha, venha. Aposto que vai gostar!
Úrsula, enfezada, excitada, bate na porta, no final do corredor.
– Pode entrar...
De manhã, a filha estranha o trololó na mesa do café.
– Ué, que bicho mordeu vocês dois?
– Fizemos as pazes, Marina.
– Mas assim, mãe, de uma hora para outra?
– Foi.
– Você não gostou, filha?
– Gostei, claro, pai... Só que...
– Fizemos as pazes, meu amor. Somos marido e mulher, de novo!
– Tá bom, mãe...
O celular toca na madrugada, Úrsula se remexe, sonolenta:
– Saco! Quem será, uma hora dessas?
– É o seu maridinho...
Úrsula bate na porta, no final do corredor.
– Pode entrar...
De manhã, tome café, tome trololó.
Os pombinhos, apaixonados como nunca.
A adolescente, ainda perplexa.
– Mãe, o que está acontecendo?
– Nada, filha. Eu já disse: fizemos as pazes. É só.
– Mas, anteontem, aquela briga feia, a ameaça de separação...
– Bobagem, filha. Sabe? coisa de momento...
– Ah, então, tá!
– Crianças, quem cochicha...
– Sabemos, querido: o rabo espicha!
Úrsula bate na porta, no final do corredor.
– Pode entrar...
– Que escuridão, Miguel!
– Estou aqui, venha...
– O que você está aprontando?
– Vou acender a luz... Surpresa!
– Oh, não! Isso não!
Agora, verdadeiramente, só Úrsula e Marina em casa.
Miguel está num hotel, no outro lado da cidade.
– Mas, mãe!...
– É melhor assim, meu anjo. Um dia você vai entender.
O celular toca na madrugada, Úrsula se remexe, sonolenta.
O telefone não para; não para; não para...
– Fala, Miguel!
– Olhe, Úrsula, escute...
– Uma ova! A gente combinou uma coisa, você desfez o trato.
– Sim, eu sei, mas acredite, não fiz por mal...
– Ora, me deixa em paz! Adeus!

No hotel, o pobre homem no pranto cai quando a mulher desliga;
Já viciou nas chicotadas dela, no jogo todo, agora como será?... 
Impassível, Úrsula transpõe a porta, no final do corredor:
A camisola branca, sobre a cama, parece rir, zombar...

Num ímpeto, Úrsula a faz em frangalhos;
Xinga o marido, único culpado, de burro, cavalo, jumentão!
A coisa, o casamento, não teria como não ser para sempre:
Bastava uma briga feia ali, os quartos separados, uma ligação...

Aí, o tesão...; sim, ai!, e se novamente faltasse o desejo...
Outra briga feia acolá, de novo os quartos separados,
Uma ligação...; maldição!, oh! terrível desfecho:

Onde diabos Miguel fora arranjar “aquele” inferno de Dante?
Qual tinha sido o combinado?, qual?, qual camisola?
Não tinha ele que vestir somente a dela, a vermelha, cor de sangue?



quarta-feira, 12 de agosto de 2015

ESTRELA

Estrela mesmo
Que é bicho bom
Não havia

Somente a luz do poste
Nem tão alta
Nem tão fria

Uma esperança dava
Mais triste
À minha vida vazia