segunda-feira, 21 de outubro de 2013

É O DIABO!


Por Deus, gente – não sei o que deu nele pra sair assim de casa.
Só sei que acordei de manhã e nem sinal dele na cama comigo.
Procurei no banheiro, na cozinha, no quintal – e nada.
Liguei pro trabalho dele, pros parentes, pros amigos – e nada também.
Aí pensei: tem vadia na jogada.
Só podia ser alguma mulher – se bem que em cinco anos de casada nunca tive motivos pra desconfiar uma gotinha que fosse.
Mas é assim mesmo – quem conhece o que se passa na cabeça dos outros?
A gente cuida, dá roupa limpa, faz comidinha gostosa, dá carinho e tudo o mais – e um dia o diabo aparece e não quer nem saber: leva embora o que não pertence a ele, o que é nosso por direito.        
Agora vivo sozinha.
Nunca um telefonema, um bilhete, uma explicação.
Esperei anos e anos por isso.
Até me cansar, aceitar que as coisas são como são e ponto final.
Homem nunca mais arranjei.
À missa aos domingos não fui mais.
Vivo trancafiada em casa – o máximo que saio é pra comprar comida ou alguma roupa nova que acabo não vestindo.           
Não sou uma mulher triste.
Acho que não.
Sou – digamos assim – uma pessoa anestesiada, indiferente.
Nada me dói – nem a minha dor, nem a dos outros.
O mundo pode acabar daqui a dois minutos que não estou nem aí.
Ouço meu rádio, vejo alguns programas na TV, fumo meu cigarro quando me dá na telha – e vou vivendo.
Até o dia que Deus quiser.
Até o dia em que meu “benfeitor” resolver me deixar morrer de fome...
Pode acreditar – eu tenho um benfeitor; ou benfeitora, sei lá!
Eu não contei ainda, mas existe alguém que nas horas mais invisíveis do dia ou da noite enfia um envelope com dinheiro embaixo da minha porta.
Nunca descobri de quem se trata...
Pode ser qualquer pessoa.
Qualquer uma.
Até meu ex-marido... por que não?
Não, não e não!; prefiro nem pensar nisso.
Pra mim, o safado está e deve continuar morto – bem morto e bem enterrado.