segunda-feira, 25 de outubro de 2010

HISTORINHA

Uma das coisas que eu mais gostava era de sentar na areia da praia e ficar contemplando a fúria do mar...
Uma vez eu estava assim, quando vi aproximar-se de mim um velho de longas barbas brancas. Lembrei logo daquele velhinho da História da Galinha dos Ovos de Ouro. Mas eu não tinha nenhuma vaca para vender – e ele certamente não tinha nenhum feijão mágico para me oferecer.
Engano meu: ele tinha, sim...
“Quer trocar esses seus óculos escuros por cinco grãos de feijão?”, perguntou o coroa ajoelhando-se ao meu lado.
“O quê...?”
Ele repetiu a pergunta e, espalmando a mão direita, exibiu quatro carocinhos de feijão preto.
“O senhor disse cinco grãos!”, protestei.
“Sim, eu disse.”
“Então cadê o outro?”
O velho sorriu:
“O quinto é surpresa! Quer trocar?”
“Quero. Mas só se for pelos cinco!”
“Abra sua mão!”
Eu obedeci, e ele me entregou o feijão:
“Agora me dê seus óculos!”
Estendi o feijão de volta:
“O senhor não entendeu: eu falei que troco pelos cinco grãos!”
“O quinto é surpresa, eu já disse!”
“E quem me garante que o senhor não vai me passar a perna?”
“Você vai ter que confiar. Aposto que não vai se arrepender!”
Guardei o feijão no bolso da camisa:
“Está bem, eu troco. Mas, se o senhor estiver me enganando, eu juro que arranco sua cabeça fora!”
“Seria justo, amigo. Os óculos, por favor!”
Lamentando por meus lindos óculos, vi o sujeito desaparecer como um rato na multidão de banhistas...
Demorei ali sentado por um bom pedaço de tempo, ainda; depois fui para casa.
“Mãe, troquei meus óculos por cinco grãos de feijão. Olhe!”
“Aí só tem quatro, Guilherme.”
“O velho lá na praia me garantiu que o quinto é surpresa. Tome, jogue tudo pela janela!”
Ela prontamente fez o que pedi.
Anoitecia. Tomei banho, jantei e saí para a rua. Voltei às onze, depois de ter ido numa casa daquelas no centro da cidade. Mãe já estava dormindo. Fui direto para a cama.
De manhã, acordei com uma barulheira dos demônios.
“É o pé de feijão!”, gritei correndo até a cozinha.
Mãe espiava pela janela. Assistia empolgada ao corte de uma árvore condenada que ameaçava cair sobre o nosso muro e a cabeça de algum transeunte desavisado. (Curiosamente, era o próprio Prefeito quem comandava o serviço. Em mangas de camisa e suando em bicas, ele exibia o sorriso mais bonacheirão deste mundo!)
Furioso, voltei à praia naquela tarde.
Não vi nem sinal do velho...
Mas conheci uma garota maluquinha de short amarelo – e pois não é que me apaixonei mesmo pela danada?!?
Agora levo sempre Abigail comigo à praia. Não à tarde, como eu costumava – por causa da agitação do mar; mas de manhã cedo – o mar calminho, calminho...

Um comentário:

Francisco Hélio Sena Brito disse...

Conto publicado no livro "Ab Absurdo" da Câmara Brasileira de Jovens Escritores.