terça-feira, 7 de junho de 2011

A DONA DO TEMPO


Não é que ela fosse uma Rainha má. Não era. O problema dela era outro – a vaidade excessiva. Envelhecer era o seu pior pesadelo.
No dia em que, diante do espelho, ela encontrou um fio de cabelo branco, ficou desesperada. Arrancou fora o intruso e ordenou aos cavaleiros do palácio que vasculhassem todo o reino e destruíssem cada relógio que encontrassem.
A Rainha acreditava que, acabando com os relógios, o tempo pararia de passar.
Assim foi feito: não restou pedra, ou melhor, relógio sobre pedra...
E Sua Majestade pôde então dormir sossegada.
Semanas depois, no entanto, a Rainha tornou a achar outro fio de cabelo branco. Chamou novamente os cavaleiros do palácio e esbravejou com eles. “Deve ter sobrado algum desgraçado por aí!”, disse ela. “Saiam e só voltem aqui quando encontrarem esse maldito relógio!”
E lá se foram novamente os pobres cavaleiros.
Procuraram dias e dias, até que descobriram um reloginho escondido no baú de uma velha camponesa que morava sozinha a muitas léguas da cidade.
“Por favor, não levem o bichinho embora, não!”, choramingou ela. “Foi presente do meu Joaquim, que Deus o tenha...”
Não houve jeito. O relógio foi levado ao palácio e aniquilado sem a menor compaixão.
         E a Rainha, mais uma vez, pôde dormir sossegada...

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