quarta-feira, 2 de março de 2016

O ÚLTIMO BIFE

Está chovendo. É uma chuva forte, porém triste...
Mentira. Na verdade, sou eu que ando meio triste... São tantas coisas, sei lá!
            Acabo de chegar do trabalho, da rua.
            Demorei um pouco no bar do Felipe. Tomei quatro cervejas, sozinho, ao pé do balcão.
            Lá pela segunda latinha, um casal começa a discutir na mesa ao lado:
            – Cansei das suas mentiras, das suas traições, Artur!
            Não presto atenção no resto.
            O problema não é meu, eles que deem um jeito naquilo.
            Terminado o último gole, me despeço do Felipe e sigo para casa.
            A chuva me pega a cem metros do portão.
            Entro, minha esposa está vendo TV na sala com as crianças.
            Julinho corre ao meu encontro:
            – Nossa, papai, você está todo molhado!
            Ana Alice, minha filha, mal desgruda os olhos da novela, é como a mãe...
            Rute se levanta:
            – Vá se trocar, Miguel, vou pôr sua janta.
            Pergunto, quase em silêncio:
            – Alguém ligou pra mim?
            – Não. Por quê?
            – Por nada...
            Entro no quarto.
            Enquanto dispo a roupa molhada, penso no casal brigão lá do bar.
            “Estou cansado das suas mentiras, Rute!...”
            E então, chorando, decido não jantar hoje, mesmo que seja bife acebolado com farofa, feijão e macarrão...
            Nem hoje, nem amanhã, nem nunca mais!

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