terça-feira, 4 de setembro de 2018

OSMARINA


– Venha cá, minha nega!
            A empregada, passando por longe:
            – Olhe o respeito, seu Evandir. Conto pra sua filha...
            – Conta nada, conta nada!
            – O senhor não duvide. Dona Marce...!
            – Psiu! Não seja tola.
            – ...
– Vá pegar um copo dágua pra mim, vá...

...

– O diabo do velho continua me atazanando...
– E tu?
– Quê que tem eu?
– O que vai fazer?
– Conto pra filha dele?
– Ela vai acreditar? Não vai te despedir?
– Sei não, mãe. Juro que não sei.

...

– Osmarina.
– Pois não, dona Marcela.
– Sente-se aqui, quero falar com você.
– Foi o prato que eu quebrei de manhã?
– Não. É outra coisa. Escute.

...

– Tô passada, mãe.
– O velho aprontou de novo?
– A dona Marcela quer que eu me junte...
– Se junte?
– É, mãe. Com o velho.
– Que negócio é esse?!
– E eu sei, mãe!
– Tu aceitou?
– Deus me livre!
– Se eu fosse tu, aceitava.
– Mãe!

...

– O velho me despachou, mãe.
– Depois de uma semana? Como assim?
– Disse que eu não sirvo pra ele...
– Não serve, como?
– Ah, mãe! Ele quer umas coisas...
– Que coisas, menina?
– Umas coisas esquisitas, mãe...
– E agora?
– Vou continuar lá, mas só trabalhando mesmo.

...


– Dona Marcela, amanhã não venho...
– Hem?
– Não vou mais trabalhar aqui...
– Algum problema?
– Nenhum, dona Marcela.
– Está bem, você que sabe.

...

– Que cara é essa, Osmarina?
– Me demiti, mãe. O velho nem me olhava mais...
– Não tô te entendendo, criatura.
– Eu sinto falta, mãe, sei lá.
– Falta do quê?
– Da danação do velho, mãe!
– !
– Acho que me apaixonei. Quero morrer, mãe!


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